“1, 2…” Entra a contagem típica dosBeatles, depois os acordes típicos de John Lennon ao piano, e… está lançada “Now And Then”, a última música dos Beatles. Ela foi escrita e cantada por John Lennon, desenvolvida e trabalhada por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, e agora, mais de quatro décadas depois, finalmente finalizada por Paul e Ringo.
A fita demo da canção foi dada por Yoko aos Beatles em 1994, para o projeto “Anthology”, mas, na ocasião, não foi aproveitada.“‘Now and Then’ meio que ficou definhando em uma gaveta. Então, em 2001, perdemos George (Harrison), ficamos sem vento em nossas velas. Levamos quase um quarto de século para achar o momento certo para encarar ‘Now and Then’ de novo”, conta Paul McCartney, em depoimento ao documentário “Now And Then — The Last Beatles Song”, escrito e dirigido por Oliver Murray. A tecnologia desenvolvida pela equipe do cineasta neozelandês Peter Jackson para a série documental “Get Back” (2021) possibilitou que finalmente a voz de Lennon fosse separada do piano para ser trabalhada em uma nova versão com alta qualidade técnica.
“George e Ringo vieram ao meu estúdio. Ouvimos a faixa: o John lá em seu apartamento em Nova York, martelando o piano, terminando essa pequena demo. É algo que a gente deveria fazer. Toda vez que eu pensava nisso, pensava, peraí, se eu tivesse a chance de perguntar ao John?. ‘Ei, John, você gostaria que a gente terminasse essa sua última canção?’. Eu te falo, sei que a resposta seria ‘yeah’. Ele teria adorado”, lembra Paul.
Sean Lennon, filho de John, concorda:“Meu pai teria amado, porque ele nunca foi tímido para experimentar com tecnologias de gravação. Acho que ficou realmente bonito”. Esse sentimento ecoa nas palavras de Paul McCartney: “Estamos mexendo com tecnologia de última geração, algo em que os Beatles estariam muito interessados”.
“Now And Then” foi lançada mundialmente hoje, 2 de novembro de 2023, às 14h GMT (11h de Brasília) pela Apple Corps Ltd./Capitol/UMe. O videoclipe da música será lançado globalmente amanhã, sexta-feira, 3 de novembro.
Ontem, foi lançado no canal dos Beatles no YouTube o documentário de 12 minutos “Now And Then — The Last Beatles Song”, escrito e dirigido por Oliver Murray. O comovente curta-metragem conta a história por trás da última música dos Beatles, com imagens exclusivas e comentários de Paul, Ringo, George, Sean Ono Lennon e Peter Jackson.
A história de “Now And Then” começa no final da década de 1970, quando John gravou uma demo com vocais e piano em sua casa no edifício Dakota, em Nova York. Em 1994, sua esposa, Yoko Ono Lennon, entregou a gravação a Paul, George e Ringo, juntamente com as demos de John para “Free As A Bird” e “Real Love”, que foram concluídas como novas músicas dos Beatles e lançadas como singles em 1995 e 1996, respectivamente, como parte do projeto“The Beatles Anthology”. Ao mesmo tempo, Paul, George e Ringo também gravaram novas partes e concluíram uma mixagem preliminar de “Now And Then” com o produtor Jeff Lynne. Naquele momento, limitações tecnológicas impediram que os vocais e o piano de John fossem separados para obter a mixagem clara e límpida necessária para finalizar a música. “Now And Then” foi engavetada, com a esperança de que um dia fosse revisitada.
Corta para 2021, e o lançamento da série documental “The Beatles: Get Back”, dirigida por Peter Jackson, que surpreendeu os espectadores com sua premiada restauração de filme e áudio. Usando a tecnologia de áudio MAL da WingNut Films, a equipe de Jackson havia mixado a trilha sonora mono do filme, conseguindo isolar instrumentos e vocais, e todas as vozes individuais nas conversas dos Beatles. Esse feito abriu caminho para a nova mixagem de 2022 de“Revolver”, obtida diretamente das fitas master de quatro faixas. Isso levou a uma pergunta: o que poderia ser feito agora com a demo “Now And Then”? Peter Jackson e sua equipe de som, liderada por Emile de la Rey, aplicaram a mesma técnica à gravação caseira original de John, preservando a clareza e a integridade de sua performance vocal original ao separá-la do piano.
Em 2022, Paul e Ringo começaram a completar a música. Além do vocal de John, “Now And Then” inclui guitarra e violão gravados em 1995 por George, uma nova parte da bateria de Ringo e baixo, violão e piano de Paul, que combinam com a interpretação original de John. Paul acrescentou um solo de slide guitar inspirado em George; ele e Ringo também contribuíram com backing vocals para o refrão.
Em Los Angeles, Paul supervisionou uma sessão de gravação no Capitol Studios para o arranjo de cordas docemente melancólico, característico dos Beatles, escrito por Giles Martin, Paul e Ben Foster. Paul e Giles também acrescentaram um último toque maravilhosamente sutil: backing vocals das gravações originais de “Here, There And Everywhere”, “Eleanor Rigby” e “Because”, incorporados à nova música, usando as técnicas aperfeiçoadas durante a produção do show e do álbum“LOVE”. A faixa finalizada foi produzida por Paul e Giles, e mixada por Spike Stent.
Paul comenta:“Lá estava ela, a voz de John, cristalina. É bastante emotiva. E todos nós tocamos nela, é uma gravação genuína dos Beatles. Em 2023, ainda estar trabalhando em músicas dos Beatles e prestes a lançar uma nova música que o público ainda não ouviu é algo emocionante”.
Ringo comenta:“Foi o mais próximo que chegamos de tê-lo de volta na sala, então foi muito emocionante para todos nós. Foi como se John estivesse lá, você sabe. É muito distante”.
Olivia Harrison acrescenta:“Em 1995, depois de vários dias no estúdio trabalhando na faixa, George sentiu que os problemas técnicos da demo eram insuperáveis e concluiu que não era possível terminar a faixa em um padrão suficientemente alto. Se ele estivesse aqui hoje, Dhani e eu sabemos que ele teria se juntado a Paul e Ringo, de coração, para concluir a gravação de ‘Now And Then'”.
Sean Ono Lennon diz:“Foi incrivelmente comovente ouvi-los trabalhando juntos depois de todos esses anos desde que papai se foi. É a última música que meu pai, Paul, George e Ringo fizeram juntos. É como uma cápsula do tempo, tem o sentimento de que tinha que ser mesmo assim”.