A arte chegou cedo e de maneira definitiva à vida de Jehanne Saade, nascida no Rio de Janeiro e descendente de libaneses. Aos 6 anos, tinha aulas de acrobacia, dança e teatro com a Intrépida Trupe, o revolucionário grupo circense e multitalentos carioca, com quem viveu as primeiras aventuras no palco. A vida nômade da família fez com que ela também tomasse contato precoce com diferentes falas, culturas, tradições e expressões. Viveu na
França, no Líbano, na Venezuela e, em terras fluminenses, dividiu infância e adolescência entre Leblon, Santa Tereza e a cidade serrana de Nova Friburgo, onde sua mãe teve papel importante como agitadora cultural.
“Minha primeira memória musical é de uma coleção de cantigas clássicas infantis francesas, que ganhei quando vivemos em Paris”, conta Jehanne, que mais tarde também se encantaria pela obra dos mestres Charles Aznavour e
Georges Moustaki. No Brasil, absorveu estilos de toda a MPB, da bossa nova ao rock: “Eu tirava um mês para ouvir tudo de um grande artista e, dessa forma, estudei Chico, Caetano, Novos Baianos, Secos & Molhados, Rita Lee. E
sempre ouvi muito Tim Maia, que para mim é uma figura solar. Amo a essência e o calor que ele coloca na música”.
O pop internacional também serviu de base para sua formação –Madonna, Michael Jackson, Sting, Pink Floyd, Beatles, The Doors, Stevie Wonder… E a poesia entremeou a vida da garota, que decorava e declamava Vinicius de
Moraes e Cecília Meirelles, seus ídolos nas letras. Mas até que tudo isso rendesse frutos criativos levou algum tempo. Jehanne formou-se jornalista, trabalhou com publicidade, sem nunca abandonar a companhia do violão e da
dança do ventre, paixão quem vem de suas raízes libanesas.
Em meio a uma crise pessoal, veio a fagulha. “Eu estava só, nua no meu quarto, com meu violão, e nasceu a primeira composição, Je Ne Veux Plus”, em francês, claramente sob inspiração do idioma das canções que eu ouvia na
infância. Outras músicas brotaram, comecei a escrever, escrever… Foi minha maneira de sobreviver”, diz.
Mais do que terapia ou tábua de salvação, a música surgiu como uma oportunidade real de expressão para Jehanne. Ao se dar conta de que tinha um repertório bem definido e conceitual de canções autorais, começou a registrá-las. “A obra do artista só tem sentido se é compartilhada com o público”, acredita.
Exótica, o primeiro álbum, lançado em 2016, foi pensado como um musical teatral, que Jehanne ainda pretende ver montado. “É um espetáculo onírico, todo feito em video mapping, uma tecnologia ainda pouco usada no teatro
brasileiro. Também envolve muita dança e traz todas as influências que ajudaram a construir meu estilo”.
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